2015-01-26

Nutrição

Chá verde, chá branco e chá oolong realmente emagrecem?

Esses três tipos de chá, todos oriundos da cultura oriental, são produzidos a partir de uma espécie de planta denominada Camellia Sinensis. A principal diferença entre eles está no grau de processamento e oxidação da planta. Alega-se que esses chás possuem diversas propriedades medicinais, sendo o emagrecimento, talvez, sua principal propriedade. Contendo quantidades relativamente altas de cafeína e catequinas, substâncias que supostamente aumentam o gasto energético, não seria um absurdo pensar que eles poderiam mesmo ajudar a emagrecer. Mas será que os estudos bem controlados realmente confiram essa ideia?

Além da cafeína (que já foi assunto de post anterior), diversos tipos de catequinas são encontrados nesses chás, a saber: epicatequina, epicatequina gallato, epigallocatequina, e a mais abundante e, provavelmente, mais bioativa, epigallocatequina-3-gallato.

Embora existam diversos estudos avaliando a eficácia desses chás como tratamento auxiliar para perda e, principalmente, para manutenção do peso, muitos deles apresentam sérias limitações metodológicas. Estudos transversais, por exemplo, chegam a mostrar impressionantes diferenças de ~20% de gordura corporal entre consumidores desses chás em comparação a não-consumidores (veja aqui). Um resultado bom demais para ser verdade...

Por outro lado, estudos longitudinais bem controlados não têm obtido resultados tão animadores. Por exemplo, um estudo recente com 83 mulheres obesas recebendo 300 mg/dia de epigallocatequina-3-gallato ou placebo por 12 semanas não mostrou nenhum efeito dessa substância sobre peso corporal, percentual de gordura e gasto energético, entre outras variáveis. Outro estudo semelhante, com 88 indivíduos, não mostrou melhora na sensibilidade à insulina (quanto melhor sua sensibilidade à insulina, mais longe de ser diabético você está), tampouco em marcadores da saúde cardiovascular após 8 semanas de consumo de epigallocatequina-3-gallato; no entanto, os pesquisadores observaram uma discreta redução da pressão arterial, o que é um resultado interessante.

Um estudo do tipo “meta-análise” (que compila dados de diversos outros estudos na literatura, selecionando os de maior qualidade metodológica) encontrou apenas 14 estudos controlados, 8 deles conduzidos no Japão e 6 fora do Japão. Por questões metodológicas, os autores analisaram separadamente os estudos conduzidos dentro e fora do Japão. Se, por um lado os estudos Japoneses mostraram perdas de até 3,5 kg, por outro, os estudos conduzidos fora do Japão mostraram de forma consistente a falta de efeito desses chás na perda de peso (perda média de 0,04 kg). Tais achados mostram, na melhor das hipóteses, que diferenças na qualidade da planta cultivada lá, diferenças culturais e/ou étnicas, influenciam bastante os efeitos que esses chás terão sobre o emagrecimento. Se você não é descendente de japonês, ou não mora no Japão, talvez não haja muito o que esperar desses chás...

As conclusões me parecem bastante óbvias: não existem evidências suficientes para afirmar que o consumo desses chás auxilia no emagrecimento. Qualquer efeito, se algum, provavelmente será pequeno e, assim sendo, sem importância clínica. No entanto, o consumo do chá é seguro e, se consumi-los é algo que você gosta e lhe dá prazer, então vá em frente! Apenas não o faça para emagrecer. Existem meios melhores para tal...

Guilherme Artioli - Blog Ciência Informa

www.cienciainforma.com.br

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