Há muito tempo, acredita-se que atletas “viciados” num cafezinho tendem a não apresentar ganhos expressivos de desempenho quando suplementam com cafeína para a competição. Um novo estudo do nosso grupo põe em xeque essa crença comum da Nutrição Esportiva. Confira no post de hoje!
A cafeína é um dos raros suplementos nutricionais capazes de produzirem efeitos ergogênicos, ou seja, de melhorarem o desempenho no esporte. As condições nas quais a suplementação de cafeína pode trazer benefícios aos atletas foram discutidas anteriormente (clique aqui para ler). Hoje, trataremos da seguinte questão: o atleta que já consome muita cafeína na dieta, pode se beneficiar da suplementação de cafeína no dia da prova?
A ideia vigente é que o atleta muito adepto ao bom cafezinho poderia apresentar uma resposta reduzida de ganho de desempenho em resposta à suplementação deste suplemento na competição. Em tese, isso ocorreria pois o consumo crônico de cafeína na dieta poderia “dessensibilizar” sua ação em seus receptores (lembrando que a cafeína age sobre os chamados receptores de adenosina, bloqueando-os). No entanto, evidências científicas comprovando essa alegação no esporte, até então, eram muito superficiais.
Pensando nisso, resolvemos realizar um estudo no qual 40 ciclistas foram suplementados com placebo ou cafeína (6 mg/Kg/dia). Os resultados de desempenho foram comparados entre os atletas de baixo (58 mg mg/dia), moderado (143 mg/dia) e alto (351 mg/dia) consumo de cafeína na dieta. Assim como em diversos outros estudos, pudemos observar o efeito ergogênico da cafeína em nosso estudo (redução de cerca de 4% do tempo para completar uma prova de 16 Km). Surpreendentemente, no entanto, os consumidores e não consumidores habituais de cafeína tiveram um benefício de desempenho muito similar!
Contrariando uma crença que perdura há décadas, esses achados inéditos sugerem que o atleta não precisa abrir mão dos prazeres do velho e bom cafezinho no seu dia-a-dia para se beneficiar da suplementação de cafeína em seus treinos e competições.
Por além dessa mensagem mais aplicada, esse estudo também nos relembra a necessidade de sempre questionarmos “verdades absolutas” em nossas áreas de atuação, priorizando a conduta baseada em evidência, em detrimento dos muitos mitos e crenças disseminados por aí.
ps.: outros detalhes desse estudo foram discutidos nesse vídeo do nosso canal (clique aqui).
Até a próxima!
Bruno Gualano - Blog Ciência InForma
www.cienciainforma.com.br
Para mais detalhes, ler:
Gonçalves et al. Dispelling the myth that habitual caffeine consumption influences the performance response to acute caffeine supplementation, Journal of Applied Physiology (in press).