2015-04-08

Nutrição

Comida vicia?

É bem comum ouvirmos pessoas dizendo que são viciadas em algum tipo de alimento. Mas quantas vezes você conheceu alguém que se dizia viciado por maçã ou suco verde?

Existe uma vasta discussão sobre o fato da comida ser ou não capaz de levar ao vício. Isso porque, apesar de alguns alimentos agirem no cérebro nos mesmos locais que o álcool e drogas, um aspecto importante do vício é que, quando a pessoa é exposta à substância (ou comportamento) ao qual é viciada, ela tende a querer cada vez mais. Porém, estudos com pessoas “viciadas” em comida, cujo tratamento é fazer com que elas comam o alimento pelo qual são "viciadas", resultam em uma melhora importante desse comportamento. Agora pense, você conhece algum tratamento de alcoolismo no qual é oferecido um copo de whisky diário e, com o tempo, o alcoólatra para de beber?

Tentando verificar se existe algum tipo de alimento mais “viciante”, um interessante estudo avaliou que os alimentos processados, ricos em gorduras e açúcares, estão mais associados a um consumo abusivo. Dentre eles se destacaram: pizza, chocolate, chips (batata frita industrializada), cookies e sorvete.

Interessante notar que os alimentos “viciantes” são justamente aqueles considerados “ruins” e “proibidos”. E estudos demonstram que, quando comemos um alimento considerado proibido isso aumenta ainda mais o estímulo na área do cérebro relacionada com prazer e recompensa. Deste modo um ciclo se instala: a pessoa evita o alimento por ele ser “ruim”, mas sabe que ele dá um prazer enorme. Quando o come, o faz vorazmente, podendo perder o controle e exagerar. Logo após se sente culpada e promete a si mesma que não o comerá mais e, quando come...

E aí entra a nutrição comportamental. Nos trabalhos citados foi utilizada uma técnica conhecida como “mindfull eating” ou comer com atenção plena. Nesta técnica a pessoa desenvolve habilidades para conseguir comer sem perder o controle e sem se sentir culpada ou até mesmo depressiva. Os estudos são vários e os benefícios dessa técnica para o tratamento da compulsão alimentar foram corroborados até por uma recente meta-análise.

Sendo assim, apesar de não podermos responder definitivamente à pergunta inicial é importante entendermos que alguns comportamentos podem servir de gatilho. Dentre eles merecem destaque: rotular alimentos como “ruins” e o consumo de alimentos processados ricos em gorduras e açúcares. Deste modo, priorize ao máximo o consumo de alimentos frescos, in natura e, quando for comer algo de que gosta muito, independente do que for, SABOREIE INTENSAMENTE e satisfaça sua vontade sem culpa. Na dúvida basta lembrar que comida fresca não tem ingrediente, ela é o ingrediente.

Até a próxima!

Desire Coelho – Blog Ciência Informa

www.cienciainforma.com.br

Para saber mais:

Ziauddeen et al. Is food addiction a valid and useful concept? Obes Rev. 2013;14(1):19-28.

Schulte et al. Which Foods May Be Addictive? The Roles of Processing, Fat Content, and Glycemic Load. PLoS ONE , 2015; 10(2): e0117959.

Kristeller JL, & Wolever RQ. Mindfulness-based eating awareness training for treating binge eating disorder: the conceptual foundation. Eating disorders, 2001; 19 (1), 49-61.

Godfrey et al. Mindfulness-based interventions for binge eating: a systematic review and meta-analysis. J Behav Med. 2015;38(2):348-62.

Comentários

Veja também

Nossos Colaboradores

Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo