Vida e Saúde

O peso do IMC no risco cardiovascular em longo prazo

Que a obesidade é um fator de risco cardiovascular não é novidade. Contudo, parece haver um grupo de sujeitos obesos que não apresentam desordens metabólicas: os obesos metabolicamente saudáveis. Ocorre que muita polêmica existe acerca da “existência” desse grupo. Muitos defendem que em longo prazo, eles irão invariavelmente desenvolver alguma desordem metabólica, tornando-se não saudáveis. Será?

Um estudo recente contesta o fato dessa transição do metabolicamente saudável para o não saudável acontecer exclusivamente pelo fato do sujeito ser obeso. Os autores avaliaram 90257 mulheres ao longo de 30 anos (1980-2010), classificadas em eutróficas, sobrepeso e obesas de acordo com o índice de massa corporal (IMC). Foram consideradas metabolicamente saudáveis mulheres que não apresentassem nenhuma das três desordens metabólicas clássicas (hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias). 

De modo geral, os resultados do estudo mostraram que mulheres metabolicamente saudáveis apresentaram risco cardiovascular substancialmente menor em todos os grupos de IMC. Mulheres eutróficas não saudáveis tiveram risco 243% maior do que eutróficas saudáveis! Já mulheres com sobrepeso e obesas que permaneceram saudáveis tiveram riscos 20% e 39% maiores quando comparadas às eutróficas saudáveis (riscos BEM menores do que o das eutróficas não saudáveis). Já as mulheres com sobrepeso e obesas que não eram ou deixaram de serem saudáveis tiveram riscos 261% e 315% maiores quando comparadas às eutróficas saudáveis (riscos maiores, porém não tão diferentes do que o das eutróficas não saudáveis).

Como esperado, o risco em mulheres com sobrepeso e obesidade metabolicamente saudáveis e não saudáveis foi maior do que o que mulheres eutróficas saudáveis e não saudáveis, respectivamente. Isso indica que a obesidade é sim um fator de risco cardiovascular. Mas o fato da pessoa ser metabolicamente não saudável, independentemente do seu peso corporal, é BEM mais determinante.         

Assim, embora sujeitos obesos apresentem maior risco cardiovascular, tal risco pode ser consideravelmente diminuído se se mantiverem metabolicamente saudáveis. É fácil atingir esse objetivo? Não. Apenas 6% das mulheres obesas saudáveis em 1980 assim ainda permaneciam em 2010. Quando olhamos para as mulheres com sobrepeso e eutróficas, esses números sobem para 8 e 15%. Números maiores, porém ainda bastante baixos, reforçando que o estado “metabolicamente saudável” é sim transiente para uma grande parcela da população obesa, mas também para pessoas com sobrepeso e eutróficas.

Portanto, a manutenção da saúde metabólica parece ser primordial para diminuir substancialmente o risco cardiovascular independentemente do IMC. Para isso, nada melhor do que fazer exercícios físicos e ter uma alimentação saudável regularmente. Não há milagres!  

Fabiana Benatti – Blog Ciência Informa

Para saber mais:

Eckel N, Li Y, Kuxhaus O, Stefan N, Hu FB, Schulze MB. Transition from metabolic healthy to unhealthy phenotypes and association with cardiovascular disease risk across BMI categories in 90 257 women (the Nurses’ Health Study): 30 year follow-up from a prospective cohort study. Lancet Diabetes Endocrinology. 2018 May 30. pii: S2213-8587(18)30137-2. doi: 10.1016/S2213-8587(18)30137-2. [Epub ahead of print]