Vida e Saúde

Tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda!!!!!!!!!!!!

Se a consciência deveria não nos permitir a rendição completa ao hedonismo puro, ela também não pode ser instrumento de privação ao induzir comportamentos extremistas e, consequentemente, antagônicos ao conceito mais holístico de saúde. O post de hoje trata o assunto com uma ponta de acidez, típica do autor.

Não é do meu tempo (ufa!), mas a frase de Alexander Woollcott não podia ser mais contemporânea...

Já era quase meia noite e, esparramado no sofá, assistia ao jogo do Corinthians na televisão. Não foi até a quinta garrafa de cerveja que “bateu a consciência”. Pensei, caraca!! Hoje é plena quarta feira; amanhã o dia começa às 5h e você já não tem mais 18 anos faz tempo, mané! Apesar deste inconveniente súbito de racionalidade conclui: Wtf!? É o “Curintiá”, pô!!! E lá se foi a sexta garrafa... (ganhamos, a propósito!!).

Vivemos numa época em que tamanha é a oferta de informações sobre saúde, beleza, bem-estar que não é incomum nos sentirmos culpados por não fazer o “politicamente correto” em suposto prol da saúde. As meninas, principalmente, já discutiram com vocês os vieses de comportamento que se fazem presente em diversos contextos, como nas discussões sobre a busca pelo corpo perfeito, obesidade, géis milagrosos entre tantos outros. A verdade é que o mundo todo está numa paranoia generalizada meio chata.

Profissionais da saúde não podem almoçar sem terem seus pratos minuciosamente inspecionados (e comentados) por aqueles ao seu redor. Os posts mais “bombados” do “Insta” (como odeio quem fala Insta!) são, frequentemente, aqueles de alguma “celebridade fitness” – o que quer que isso signifique – fazendo selfie com biquinho em frente à sua micro salada de folhas colhidas por monges tibetanos cobertas por grãos “funcionais”, aos quais a última edição daquela revista sobre “saúde” atribui total responsabilidade pela bela, redonda e quase sempre perfeita bunda da escriba fotogênica do Instagram.

Nossa obsessão pelo saudável, sem ponderar a natureza ou contextualização da informação, parece estar nos tirando prazeres simples, estes sim ligados ao conceito maior de saúde. Uma xícara de café é acusada de homicídio nos noticiários policiais. Um belo bife – fonte de proteínas de alta qualidade e de comprovado benefício para as mais diferentes populações – se tornou o acusado principal do câncer de intestino, coitado! (do bife e do intestino, no caso!)... Comer um brigadeiro, astro principal de toda festa infantil, é considerado crime capital com pena de 1000 abdominais! Tá chato demais!

Não me entendam mal, a informação é parte do nosso idealismo. Como cientistas (é presunçoso se auto denominar cientista? Sei lá! Acho que somos - cientistas, não presunçosos - ...não sei, dane-se!), produzir informação e disseminá-la é o nosso ganha-pão. Não estou fazendo, portanto, apologia à alienação da população sobre saberes relacionados à saúde. Embora alguns digam que a ignorância é um estado de felicidade, eu prefiro acreditar que o saber consciente é que o é! Lembro de há anos ter lido uma matéria muito bem escrita (desculpas ao autor por não lembrar o seu nome) em uma revista aleatória enquanto esperava minha vez em um consultório médico. O autor brincava ao dizer que, hoje em dia, até a sua tia, cozinheira dos melhores pratos da sua memória, anda chamando batata de carboidrato! Mas não é isso mesmo que anda acontecendo? Digo mais (e pior), é capaz desta mesma tia estar espalhando por aí que comer carboidrato após as 18h engorda!!!

Estamos mais conscientes sobre diversas coisas relacionadas à saúde e alimentação. Sobre o poder dos exercícios e das diferentes maneiras de se levar uma vida mais saudável. A única coisa que parecemos ainda não dominar é o extremismo nas posições, o qual já se mostrou ineficaz na mudança efetiva de comportamentos. Precisamos, então, achar uma melhor medida entre o que é bom fazer e o que é bom de se fazer.

Até a próxima!

Prof. Dr. Hamilton Roschel - Blog Ciência InForma

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