Vida e Saúde

Exercício e Nutrição na Obesidade Materna

Este mês, uma renomada revista da área médica (The Lancet Diabetes & Endrocrinology) publicou uma séria sobre obesidade gestacional. O post de hoje trata de como, e se, o exercício e a dieta têm um papel neste importante problema de saúde pública.

Não é novidade que vivemos uma pandemia de obesidade, com um crescente número de mulheres obesas em idade fértil. Sabe-se, ainda, que a obesidade está associada à redução da fertilidade, complicações gestacionais como, aumento do risco de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, parto prematuro, necessidade de parto por técnica cesariana, infecções e hemorragias pós-parto.

Uma vez que tanto o IMC elevado anterior à gestação como o ganho exacerbado de peso durante a gravidez estão associados com riscos gestacionais, instituições renomadas como o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia e o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidado do Reino Unido, através das suas diretrizes, recomendam que todas as mulheres grávidas sigam uma dieta saudável e pratiquem atividade física regular durante a gestação.

Neste sentido, uma revisão sistemática de 2012 aponta que uma intervenção com vistas à mudanças no estilo de vida durante a gravidez resultaram em redução significativa do ganho de peso durante a gravidez, independente do IMC inicial da gestante. Além disso, um outro estudo de meta análise do mesmo grupo (e do mesmo ano) sugere que intervenções relacionadas à dieta e exercícios podem impactar positivamente em outros parâmetros incluindo pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, número de indicações de cesárea, partos prematuros e necessidade de indução de trabalho de parto. Contudo, estes trabalhos foram compostos por estudos relativamente pequenos e que não dão conta das dificuldades de implementação destas intervenções em um ambiente mais próximo do mundo real.

A literatura apresenta dois estudos clínicos randomizados de grande escala que avaliaram o efeito de suporte individualizado (providos por profissionais da saúde) para implementação de melhorias na qualidade da dieta e dos níveis de atividade física no ganho de peso durante a gestação e outros parâmetros de saúde relacionados. No “LIMIT”, 2212 mulheres grávidas com sobrepeso ou obesidade, alocadas em grupo controle ou intervenção, foram estudadas durante o período gestacional. Embora o ganho de peso gestacional tenha sido similar entre os grupos, mulheres do grupo intervenção (que tiveram melhores hábitos nutricionais e níveis de atividade física) apresentaram menor risco de terem bebês com peso superior a 4kg do que as do grupo controle. O “UPBEAT” teve um desenho similar. Nele, 1555 mulheres grávidas com obesidade foram divididas em dois grupos, sendo que o grupo intervenção recebeu orientações individualmente elaboradas em relação a dieta e exercícios físicos. Embora os autores não tenham detectado nenhum efeito da intervenção sobre a incidência de diabetes gestacional ou de bebês acima do peso, o grupo intervenção apresentou melhores hábitos nutricionais e níveis de atividade física, assim como uma discreta, porém significante, redução do ganho de peso gestacional.

O fato destas mudanças na dieta e atividade física não terem se traduzido em maiores melhoras em parâmetros relacionados à gravidez sugerem que a implementação destas mudanças apenas durante o período gestacional podem não ser suficiente para diminuir a chance de diabetes gestacional, ou melhorar a sensibilidade à insulina, por exemplo, em mulheres que já apresentam obesidade quando da gravidez. Assim, parece razoável sugerirmos que o sobrepeso/obesidade materna é uma questão que deve ser abordada no âmbito da saúde pública durante toda a idade fértil da mulher, desde antes da concepção, incluindo os períodos entre gestações múltiplas, e se estendendo ao período pós-parto.

Abordagens deste tipo requerem iniciativas públicas adequadas, as que parecem advir da manifestação da sociedade por tal demanda. Esta, por sua vez, depende do grau de conscientização da população acerca da sua importância, o que passa pelo trabalho dos profissionais da saúde como disseminadores de conhecimento. Assim, meus caros, tratemos todos de estudar.

Até a próxima,

Prof. Dr. Hamilton Roschel

Sugestões de leitura:

Thangaratinam S, Rogozinska E, Jolly K, et al. Interventions to reduce or prevent obesity in pregnant women: a systematic review. Health Technol Assess 2012; 16: 1–191. 30

Thangaratinam S, Rogozinska E, Jolly K, et al. Eff ects of interventions in pregnancy on maternal weight and obstetric outcomes: meta-analysis of randomised evidence. BMJ 2012; 344: e2088.

Dodd JM, Turnbull D, McPhee AJ, et al. Antenatal lifestyle advice for women who are overweight or obese: LIMIT randomised trial. BMJ 2014; 348: g1285. 34

Poston L, Bell R, Croker H, et al, on behalf of the UPBEAT Trial Consortium. Eff ect of a behavioural intervention in obese pregnant women (the UPBEAT study): a multicentre, randomised controlled trial. Lancet Diabetes Endocrinol 2015; 3: 767–77.