2015-10-26
Vida e Saúde
Efeitos adversos dos suplementos nutricionais
Um estudo recente publicado em uma das mais importantes revistas científicas da área médica traz o levantamento do número de ocorrências médicas de emergência relacionadas ao uso de suplementos nutricionais. O post de hoje discute o assunto.
Que a popularidade e, consequentemente, os gastos com suplementos alimentares têm crescido nas últimas décadas não é exatamente uma novidade. Num período de aproximadamente 20 anos, por exemplo, estima-se que o número de produtos que podem ser classificados como suplementos nutricionais (produtos derivados de ervas ou herbais, complementos nutricionais e produtos à base de micronutrientes, por exemplo) tenha aumentado em mais de 10 vezes, passando de cerca de 4 mil (em 1994) para mais de 55 mil produtos diferentes disponíveis ao consumidor (em 2012, segundo os últimos dados públicos disponíveis). Também surpreendente é o fato de 50% dos americanos em idade adulta relatarem o uso pelo menos um tipo de suplemento mensalmente.
Nos EUA, embora o órgão responsável pela regulamentação dos suplementos nutricionais (o Food and Drug Administration - FDA) tenha o poder de retirar um produto julgado inseguro para o uso do mercado, ele não requer estudos de segurança pelos fabricantes antes da comercialização de seus produtos. No Brasil, por outro lado, a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) é bem mais criteriosa – embora nossa legislação ainda apresente limitações, o que implica que, por vezes, produtos disponíveis em outros países não sejam “automaticamente” liberados para venda em nosso país. Mesmo assim, não é incomum a aquisição de suplementos importados via e-stores ou trazidos na bagagem em viagens internacionais.
Um artigo científico (deste mês) publicado em uma das revistas científicas mais prestigiosas da área médica, o The New England Journal of Medicine, trata da segurança dos suplementos nutricionais. Baseados na premissa de que o report de efeitos adversos pelo fabricante é mandatório APENAS quando estes são considerados “importantes” como aqueles que resultam em hospitalização, algum comprometimento severo ou morte, os autores estimaram o número de ocorrências de emergência associadas ao uso de suplementos nutricionais em todo o país a partir de registros obtidos em 63 diferentes hospitais espalhados pelos EUA entre 2004 e 2013.
Os resultados são alarmantes! A partir dos dados coletados, os autores estimam que há cerca de 23 mil visitas/ano às emergências dos hospitais americanos que guardam alguma associação com a ingestão de suplementos nutricionais. A esmagadora maioria dos casos (~66%) parece estar relacionada à ingestão de produtos herbais ou de produtos classificados como complementos nutricionais. Destes, ~25% dos casos estão relacionados à ingestão de produtos destinados à perda de peso, enquanto outros 10% são associados ao consumo de produtos “energéticos”. Os principais sintomas nestas ocorrências são os cardiovasculares como palpitações, dor no peito ou taquicardia, seguidos por dor de cabeça, tontura, síncope e sintomas correlatos. Este dado vai de encontro à crença popular de que produtos derivados de ervas, ou “naturais”, não oferecem qualquer tipo de risco ao usuário. Outro suplemento de uso bastante difundido entre a população são aqueles compostos fundamentalmente por vitaminas e minerais. Em relação a estes, quase 32% dos casos parecem estar ligados ao consumo de suplementos à base de micronutrientes, sendo ~17% dos casos relacionados especificamente aos multivitamínicos.
Os pesquisadores estimaram, ainda, que quase 3500 casos/ano estejam relacionados ao consumo de produtos relacionados à perda de peso consumidos particularmente por mulheres. Já em homens, estima-se menos da metade de casos para o mesmo tipo de ocorrência. Em relação aos suplementos ligados ao crescimento muscular, a incidência é muito maior (~10 vezes) em homens quando comparado às mulheres, sugerindo um importante efeito da mídia e dos supostos padrões estéticos nestes números.
Aqui, no CiênciaInforma, são recorrentes as discussões a respeito da real necessidade, da possível eficácia (ou não) e da segurança dos diferentes suplementos disponíveis no mercado. Igualmente importante é a discussão a respeito do uso abusivo ou não supervisionado de qualquer tipo de suplemento nutricional. No artigo em questão, os autores declaram que um elevado número de ocorrências se deve ao uso inadvertido destes produtos. Com isto em vista e somado o fato de que a maioria dos suplementos nutricionais (ou praticamente todos) possa ser obtida livremente sem qualquer tipo de controle, é sempre importante lembrar o papel do profissional qualificado neste processo. Neste sentido, cabe lembrar que o Conselho Federal de Nutrição estabelece ao Nutricionista a competência da prescrição de suplementos nutricionais, considerando esta, uma atividade complementar do profissional atuante nas áreas de Nutrição Clínica, Saúde Coletiva e Nutrição Esportiva. Ainda, é o Nutricionista quem responde ética, civil e criminalmente por essa ação. Portanto, lembrem-se sempre de consultar um profissional qualificado antes de se render às propagandas de produtos miraculosos...
Até a próxima!
Prof. Dr. Hamilton Roschel - Blog Ciência inForma
www.cienciainforma.com.br
Bailey RL, Gahche JJ, Lentino CV, et al. Dietary supplement use in the United States, 2003-2006. J Nutr 2011; 141: 261-6.
Geller AI, Pharm NS, Weidle NJ, et al. Emergency department visits for adverse events related to dietary supplements. N Engl J Med 2015; 373: 1531-40.
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