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2016-11-22

Vida e Saúde

Quando crer é poder: novas evidências do efeito placebo na Nutrição Esportiva!

Quem nos acompanha, já sabe que a expectativa de receber determinada intervenção – mesmo que esta não possua um “princípio ativo” cientificamente comprovado – influencia o desempenho esportivo. No post de hoje, vamos discutir um recente estudo do nosso grupo, que comprova que o placebo pode ser inerte, mas a resposta de desempenho produzida por ele é genuína e pode ser de imensa importância na Nutrição Esportiva.


O placebo é uma intervenção inerte, mas sua capacidade de influenciar o ambiente é indiscutível e cada vez mais surpreendente. Recentemente, realizamos um estudo que tinha como objetivo investigar a influência da expectativa em receber cafeína ou placebo sobre o desempenho físico.



Quarenta e dois ciclistas treinados participaram de três provas contrarrelógio de ~16 Km, (1) numa situação controle (sem receber nenhum tipo de intervenção) e após consumirem cápsulas de (2) placebo e (3) cafeína. Nas condições “1” e “2”, antes e após cada teste físico, perguntávamos aos voluntários qual suplemento (placebo ou cafeína) eles achavam que tinham ingerido. As respostas possíveis eram: “cafeína”, “placebo” ou “não sei”. Dessa forma, obtivemos diversos subgrupos formados a partir do acerto ou do erro da identificação dos atletas. As figuras seguintes trazem os resultados principais (provenientes da identificação do suplemento ingerido pelo atleta após o teste), expressos em tamanho do efeito no gráfico (ou ES, do inglês effect size) e porcentagem de mudança de desempenho, no quadro imediatamente abaixo de cada gráfico. 





 



No gráfico acima, é possível observar que a melhora de desempenho com a suplementação de cafeína (+4% no nosso estudo) foi salientada para +6,5% quando os atletas “adivinharam” que estavam tomando o suplemento. Este incremento de desempenho de +2,5% deve-se à expectativa do atleta em ter tomado a substância ativa, o chamado efeito placebo!



Já no gráfico abaixo, o que se pode notar é que os atletas que corretamente identificaram que estavam tomando placebo, tiveram uma redução de desempenho de -1%. A expectativa negativa em receber uma substância inerte pode ter levado os atletas a perderem desempenho; trata-se do que chamamos de efeito nocebo, uma resposta indesejada frente a uma substância inerte, ou seja, o oposto do efeito placebo. Talvez o achado mais interessante, contudo, se refira à resposta de desempenho dos atletas que tomaram placebo mas imaginaram, equivocadamente, que receberam cafeína. Mesmo consumindo uma substância inerte, os atletas apresentaram uma melhora de desempenho da ordem de +3,7%, o que é muito próximo do efeito médio observado para a cafeína (+4%); em outras palavras, o efeito placebo não somente existe, como possui eficácia similar a uma das mais conhecidas substâncias ativas ergogênicas, que é a cafeína!





Nosso estudo traz duas mensagens importantes: 1) na pesquisa, é fundamental que tentemos “isolar” o efeito placebo, a fim de determinarmos o real papel de nutrientes ativos; tarefa nada fácil pois alguns suplementos produzem efeitos colaterais que funcionam como pistas para que o atleta identifique o que está tomando. No caso da cafeína, ansiedade, agitação e aumento dos batimentos cardíacos são apenas alguns sinais que permitem saber que o suplemento ativo foi ingerido. Analisar em separado os resultados de atletas que foram capazes de identificar corretamente a substância ingerida, e que, portanto, desempenharam com maior expectativa, pode ser uma boa saída; 2) na prática esportiva, profissionais devem consideram seriamente a expectativa do atleta quando prescreverem qualquer tipo de intervenção que vise melhorar o desempenho; instruir adequadamente o atleta sobre os potenciais benefícios de determinado suplemento nutricional, por exemplo, pode gerar uma resposta potencializada no desempenho. Lembre-se que o efeito placebo é real e onipresente desde que acompanhado por uma boa expectativa , manifestando-se a partir de intervenções ativas, mas também inativas. Em vez de negá-lo, talvez seja a hora de começarmos a discutir o seu bom uso na prática.



Até a próxima!



Bruno Gualano - Blog Ciência InForma



 



Para saber mais sobre o tema, ver:



Saunders et al. Placebo in sports nutrition: a proof-of-principle study involving caffeine supplementation. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports (in press).







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Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo