2016-02-22
Vida e Saúde
Exercício físico (aeróbio): um forte aliado luta contra o câncer.
Você já deve ter ouvido falar que o exercício físico pode prevenir o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer. Mas um artigo publicado recentemente na renomada revista científica Cell Metabolism traz evidências (impressionantes) de que o exercício aeróbio pode não apenas prevenir, mas também combater o câncer. Portanto, além da prevenção, o exercício pode ser um aliado ao tratamento. Nesse estudo, ratos foram inoculados com diferentes tipos de células câncerígenas e aqueles que se exercitavam apresentaram incidência e crescimento de tumores ate 60% menores quando comparados aos que não se exercitavam. Claro que os resultados são ainda preliminares e ainda não podem ser extrapolados a humanos, mas já impressionam e animam.
Diversos estudos têm comprovado os efeitos benéficos do exercício físico na qualidade de vida, fadiga e capacidade físico em pacientes com câncer. Além disso, estudos epidemiológicos mostram que pessoas fisicamente ativas tem menor risco de desenvolver alguns tipos de câncer e que pacientes com câncer em remissão (ou seja, curados) têm maior sobrevida quando comparados aqueles que não se exercitam. Estes dados demonstram que o exercício físico tem algum efeito protetor contra o desenvolvimento do câncer.
Mas o recente artigo publicado na renomada revista Cell Metabolism por pesquisadores dinamarqueses apresenta um novo potencial do exercício (aeróbio) como aliado no tratamento do câncer. O estudo foi feito da seguinte forma: 4 semanas antes ou após a inoculação de células cancerígenas, metade dos ratos tiveram acesso a roda de corrida voluntária (parecida com aquelas que vemos comumente em gaiolas de hamsters) e percorreram, em média, 4 a 7 Km por dia durante 4 semanas. Os ratos sem acesso a roda permaneceram sedentários durante esse período. Foram testados diferentes modelos de tumores, representativos de melanoma maligno (câncer de pele), câncer de fígado e de pulmão. Independentemente do exercício ter sido feito antes ou depois da inoculação de células cancerígenas, ele foi capaz de reduzir a incidência e o crescimento dos tumores (ver figura e gráfico abaixo).
Legenda: O gráfico mostra o volume do tumor em ratos exercitados (à direita) e sedentários (à esquerda). A figura mostra o pulmão de ratos sedentários (à esquerda) com mais tumores (área preta) e exercitados (à direita) com muito menos tumores. Fonte: Cell Metabolism DOI: (10.1016/j.cmet.2016.01.011.
Os autores tentaram ainda entender por que o exercício físico era capaz de exercer esses efeitos. Primeiramente, eles observaram que os tumores de ratos exercitados apresentavam maior quantidade de células do sistema imune - aquelas responsáveis por reconhecer e destruir vírus, bactérias e células tumorais. Isso sugere que o exercício, de alguma forma, ativou o sistema imune e fez com que estas células fossem mais capazes de reconhecer e exterminar as células tumorais. É como se o exercício físico fosse capaz de aumentar a “vigilância” e a eficiência das células do próprio sistema imune no combate às células tumorais.
Mas quanto exercício um ser humano deveria fazer para ter estes mesmos efeitos? Para essa pergunta, ainda não há uma boa resposta. Mas o estudo traz indícios de que o exercício deva ser intenso e longo o suficiente de modo a induzir aumentos pronunciados de adrenalina e interleucina-6 (IL-6, uma espécie de hormônio que regula a atividade do sistema imune). Essas substâncias são comumente secretadas durante o exercício de modo proporcional a sua intensidade e duração. Em outras palavras, quanto mais intenso e prolongado o exercício, maior a secreção de adrenalina e IL-6. Mas por quê?
Explico. Com uma série de outros experimentos (que também podem ser vistos no artigo), os autores mostraram que a adrenalina é responsavel pelo recrutamento (aumento) das células do sistema imune na circulação durante o exercício, enquanto a IL-6 redireciona essas células para as células tumorais. É como se a adrenalina fosse responsável por convocar soldados a uma guerra e a IL-6 por comandá-los orientando onde estão os inimigos a serem combatidos. Ou seja, em conjunto, elas promovem o aumento do número e da capacidade das células do sistema imune em reconhecerem e combaterem o tumor (ver figura abaixo).
Legenda: A figura mostra essa interação (epinephrine = adrenalina; bolinhas azuis representam células do sistema imune). Fonte: Cell Metabolism DOI: (10.1016/j.cmet.2016.01.011.
É sempre bom reforçar que esse estudo foi feito com ratos e que, portanto, não se sabe o quanto esses impressionantes efeitos se traduzem para o ser humano. Também não sabemos se esses efeitos seriam observados na presença de outros tipos de tumores.
Mesmo assim, os resultados impressionam e, mais uma vez, mostram o potencial terapêutico do exercício físico. E o melhor, sem nenhum efeito colateral ou deletério. E tem gente dizendo por aí que o exercício aeróbio não serve pra nada ... grande, grande engano!
Fabiana Benatti - Blog Ciência inForma
www.cienciainforma.com.br
Para saber mais:
Pedersen L, Idorn M, Olofsson GH, Lauenborg B, Nookaew I, Hansen RH, Johannesen HH, Becker JC, Pedersen KS, Dethlefsen C, Nielsen J, Gehl J, Pedersen BK, Straten P, Hojman P. Voluntary Running Suppresses Tumor Growth through Epinephrine- and IL-6-Dependent NK Cell Mobilization and Redistribution. Cell Metab 2016; 23: 1–9.
Brown JC, Winters-Stone K, Lee A, and Schmitz KH. Cancer, physical activity, and exercise. Compr. Physiol. 2012; 2: 2775–2809
Christensen JF, Jones LW, Andersen JL, Daugaard G, Rorth M, Hojman P. Muscle dysfunction in cancer patients. P. Ann. Oncol. 2014; 25: 947–958.
Mishra SI, Scherer RW, Snyder C, Geigle PM, Berlanstein DR, Topaloglu O. Exercise interventions on health-related quality of life for people with cancer during active treatment. Cochrane Database Syst. Rev. 2012; 8: CD008465.
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