Se tem um assunto sobre o qual todo mundo sempre tem alguma “dica de ouro” para dar, esse assunto é emagrecimento. Isso quando alguém não tenta convencê-lo(a) a comprar o mais novo produto/programa que, milagrosamente, irá fazê-lo(a) perder muito peso em pouco tempo e, melhor, sem esforço! Com tantos palpiteiros por aí (e com a ajuda de alguns profissionais charlatões), mitos sobre emagrecimento espalham-se e perpetuam-se com uma facilidade incrível. Neste breve espaço, terei a difícil missão de selecionar alguns dos mitos mais comuns que vejo por aí e tentar explicar porque não são verdadeiros. Minha esperança: fazer com que os leitores esqueçam dessas ideias de uma vez por todas...
Mito 1 - Minha barriga é de chopp
Não, sua barriga não foi causada pelo chopp, embora as calorias contidas no álcool, e em todos os tira-gostos que geralmente o acompanham, possam contribuir para o acúmulo de gordura. O que conhecemos por barriga de chopp é, na verdade, resultado do acúmulo de um tipo de gordura chamada “gordura abdominal visceral”, pois se localiza principalmente entre as alças abdominais e causa seu aspecto tipicamente “duro”, ao contrário da gordura subcutânea que normalmente tem um aspecto mais “flácido”. A única forma que o chopp (na verdade, o consumo abusivo de álcool em geral) pode causar barriga é pela formação de ascite, uma condição patológica caracterizada pelo acúmulo de água no peritônio, normalmente resultante de disfunção hepática, como cirrose alcoólica. Claro que a ascite é uma condição que indica a presença de uma doença, que pode ser grave. Já o acúmulo excessivo de gordura visceral está associado a um alto risco de problemas cardiovasculares.
Mito 2 - Se eu estou acima do peso, preciso reduzir peso
Se você está acima do peso, perder peso pode ser algo desejável; porém, esse não é um desfecho obrigatório para que seu tratamento tenha sucesso. Estar acima do peso pode significar aumento de risco para desenvolver diversas doenças. No entanto, é possível reduzir as chances de desenvolver essas doenças sem necessariamente reduzir o peso. Muitas vezes, pelo simples fato de sair do sedentarismo, a pessoa já reduz risco, mesmo sem perder qualquer medida ou sem pesar menos. O pior: de todos os resultados possíveis ao se iniciar um programa de tratamento contra sobrepeso/obesidade, a redução do peso na balança é um dos mais difíceis de atingir ou de se manter. Portanto, associar o sucesso de um tratamento à redução de peso é impreciso e ainda pode gerar frustrações.
Mito 3 - Certos alimentos engordam
Bolo, brigadeiro, churros, pastel, churrasco... Quantos alimentos não são comumente ditos “engordativos”, ao passo que outros são sumariamente “inocentados” de qualquer papel no ganho de peso? Pois pensar dessa forma não apenas não reflete com precisão a forma como o peso corporal é regulado, mas também incute nas pessoas a ideia de que existem alimentos maus (que devem ser evitados ou proibidos) e alimentos bons. Costumo dizer aos meus alunos: se brigadeiro engorda, experimente comer apenas uma colher por dia, e nada mais. A pessoa emagreceria, mesmo comendo apenas um alimento “engordativo”, não concordam? Por outro lado, se maçã não engorda, o que aconteceria com uma pessoa sedentária que comesse 5 mil calorias apenas com maçãs? Claro que essas são situações esdrúxulas, mas a ideia aqui é expor um conceito bastante simples: em última análise, não é o que você come que determina se ganha ou perde peso, mas sim a relação entre o quanto come/quanto gasta. Claro, isso só vai ter algum efeito perceptível ou relevante, em médio e longo prazo. Em tempo, alguns alimentos podem levá-lo a consumir mais calorias (porque aumentam sua fome, ou simplesmente porque são deliciosos e altamente calóricos), enquanto outros podem fazê-lo consumir menos calorias (porque aumentam a saciedade). Portanto, existe alguma plausibilidade neste mito. No entanto, ele continua levando as pessoas a um erro de conceito que, pior, podem levá-las a comportamentos alimentares um tanto quanto transtornados. Lembre-se, um mito como esse pode ser interpretado de forma muito extrema, como na imagem de uma reportagem abaixo. É como se o gengibre fosse capaz de eliminar gorduras localizadas! Fosse assim tão fácil...
Mito 4 - Faça exercícios e queime gordura localizada
Outra ideia muito equivocada, e ainda muito presente entre as pessoas, é a de que é possível escolher, com o tipo de exercício, o local de onde sua gordura será “retirada”. Seguindo esse raciocínio, bastaria fazer abdominais para perder gordura da barriga, bastaria malhar os glúteos para perder culotes, e assim por diante... O fato é que não existe a menor possibilidade de, com exercício ou dieta (ou qualquer intervenção não cirúrgica), escolher de onde a gordura será mobilizada. Já percebeu que algumas pessoas quando emagrecem perdem gordura em lugares onde elas não gostariam? Precisamos aprender a conviver com isso...
Mito 5 - Dietas são melhores que exercícios para perder peso
O fundamento deste mito está numa interpretação literal, e pouco crítica, de diversos estudos que compararam a eficácia de diferentes programas de emagrecimento e mostraram, de forma quase uníssona, que, ao fazer dietas restritivas, as pessoas perdem mais peso do que aquelas que apenam treinam. O problema desses estudos é que suas intervenções, quando muito, duram 6 meses; na maioria deles, o tempo de tratamento não passa de 3-4 meses. Portanto, para quem precisa perder peso rapidamente, parece que o melhor mesmo é fazer dietas restritivas. Afinal, restringir 500 calorias é mais fácil do que queimar as mesmas 500 calorias fazendo exercícios (já comentamos sobre isso aqui). Curiosamente, acrescentar exercícios a quem faz dietas restritivas parece pouco contribuir para a perda de peso. O que os defensores dessa ideia muitas vezes se esquecem de considerar é que dietas restritivas são muito difíceis de serem mantidas em longo prazo, e dificilmente se tornam um hábito para a vida toda. Cedo ou tarde, o peso perdido é recuperado, e os velhos problemas retornam. Já os exercícios podem não ser tão rápidos, mas seus benefícios extrapolam em muito os números da balança, e incorporá-los de forma definitiva à rotina não é tão difícil como se imagina.
Um abraço e boa semana!
Prof. Dr. Guilherme Artioli - Blog Ciência InForma