Há cerca de um ano, escrevi um post sobre um estudo dinamarquês que mostrava que o exercício aeróbio era capaz de diminuir a incidência e o tamanho de tumores em ratinhos inoculados com células cancegírenas. Agora, em um recente estudo, este mesmo grupo mostrou que, pelo menos no câncer de mama, os efeitos do exercício físico parecem ser agudos e não crônicos; isto é, os efeitos “anti-câncer” parecem ocorrer após cada sessão de exercício. Como eles descobriram isso? Explico no post de hoje.
Muitas são as evidências que sugerem que o exercício físico, de alguma forma, parece ser capaz de prevenir a progressão do câncer de mama. Estudos epidemiológicos, por exemplo, mostram que a prática regular de exercício físico protege contra o desenvolvimento de câncer de mama. Além disso, pacientes que sobrevivem ao câncer de mama e se mantêm fisicamente ativos têm 30 a 50% menos chances de recidiva e de morrer por essa doença.
Apesar disso, pouco se sabe sobre como o exercício pode interferir no desenvolvimento do câncer de mama. De modo a explorar esse tema, Dethlefsen e co-autores fizeram o seguinte estudo:
Pacientes sobreviventes ao câncer de mama participaram de um treinamento físico de seis meses (treinamento supervisionado uma vez por semana – aeróbio intervalado de alta intensidade e exercícios de força + duas horas por semana de exercícios em casa) ou apenas de uma sessão aguda de exercício físico (30 min de aquecimento + 60 min de exercícios de força + 30 min de exercício aeróbio intervalado de alta intensidade). Os autores, então, coletaram o sangue dos pacientes pertencentes aos dois grupos (antes e após o treinamento e antes e após a sessão aguda de exercício) e incubaram células de linhagem de câncer de mama de humanos com este sangue; isto é, colocaram essas células em um meio junto com o sangue dos pacientes. Sabemos que uma sessão aguda de exercício físico ou um período de treinamento físico são capazes de alterar a presença e/ou a concentração de fatores sistêmicos, como hormônios, enzimas, etc. Logo, o objetivo do estudo era observar como o sangue destes pacientes (e, portanto, como os fatores sistêmicos alterados pelo exercício agudo ou crônico) impactaria o desenvolvimento dessas células tumorais.
Os resultados mostraram que o sangue dos pacientes submetidos a 6 meses de treinamento não teve qualquer impacto sobre a viabilidade das células tumorais. Em contrapartida, o sangue dos pacientes submetidos a 2 h de exercício físico levou à diminuição da viabilidade (ou seja, do crescimento) das células tumorais em 10%.
Isso quer dizer que apesar do treinamento físico ser capaz de levar ao aumento da capacidade física, diminuição da gordura corporal e da inflamação sistêmica (todos fatores de risco para a progressão do câncer de mama), parecem ser as alterações agudas no metabolismo, induzidas por cada sessão de exercício físico (como aumento do lactato e catecolaminas, por exemplo), as responsáveis por mediar o chamado efeito “anti-câncer” do exercício.
A figura abaixo, retirada do próprio artigo, sugere exatamente isso: que são os efeitos acumulados após cada sessão de exercício físico que podem, em longo prazo, reduzir a incidência e a progressão do câncer de mama.
Dessa forma, parece que, para nos beneficiarmos dos efeitos “anti-câncer” do exercício físico, a chave é fazer exercícios físicos regularmente. Cada sessão de exercício é importante!
Até a próxima!
Fabiana Benatti - Blog Ciência InForma
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Para saber mais:
Dethlefsen C, Lillelund C, Midtgaard J, Andersen C, Pedersen BK, Christensen JF, Hojman P. Exercise regulates breast cancer cell viability: systemic training adaptations versus acute exercise responses. Breast Cancer Res Treat. 2016 Oct;159(3):469-79.
Dethlefsen C, Pedersen KS, Hojman P. Every exercise bout matters: linking systemic exercise responses to breast cancer control. Breast Cancer Res Treat. 2017 Jan 30.