Que a atividade física traz inúmeros benefícios à saúde ninguém mais duvida. No entanto, é muito comum as pessoas comentarem que, por algum motivo, foram impedidas de fazer atividade física. Será que existem tantos fatores assim que impedem uma pessoa de ser fisicamente ativa?
“Poxa, até gostaria de realizar uma atividade física, pena que disseram que não posso”. Imagino que muitos de vocês já tenham se deparado com esse argumento. Os impedimentos são inúmeros: “sou muito idoso”, “sou doente”, “tenho uma unha encravada”, “tenho sopro no coração”, “sou muito frágil”, e por aí vai...
A verdade é que os fatores que limitam a prática de atividade física são, via de regra, pontuais. Por exemplo, quando uma pessoa tem febre alta, indicativos de baixa imunidade, anemia ou desnutrição, ou sofre de alguma doença aguda muito debilitante, a prática de atividade física, sobretudo vigorosa, é contraindicada. Isso não significa dizer que a contraindicação de atividade física valha para a vida inteira; tão-logo a pessoa se recupere do quadro, um estilo de vida ativo pode ser novamente retomado.
Na prática, os impeditivos para a prática de atividade física são, na verdade, fatores que deveriam estimular um comportamento menos sedentário. Por exemplo, um idoso frágil com dificuldades de locomoção deveria realizar atividade física, ao invés de evitá-la, pois sabidamente a inatividade física favorece o agravamento da condição de fragilidade.
Essa lógica se aplica a casos mais extremos também. Hoje em dia, sabemos que pessoas com câncer, doenças cardíacas, reumáticas, psiquiátricas e metabólicas se beneficiam de um estilo de vida mais ativo. A prática de atividade física não só previne uma variedade de doenças crônicas, como também serve de tratamento para elas! Infelizmente, é comum profissionais da saúde estimularem um estilo de vida mais sedentário, por receio de agravar a doença de seus pacientes. Evidentemente, familiares e amigos, pelo mesmo motivo, também desencorajam pessoas mais frágeis a realizarem atividade física. Basta o vovô decidir caminhar poucos metros à padaria para que um (bem-intencionado) pelotão entre em ação para impedir essa “loucura”, não é mesmo?
Nossos recentes estudos na Faculdade de Medicina da USP têm demonstrado que, como imaginávamos, os pacientes com doenças reumáticas, independentemente da faixa etária, apresentam um índice de inatividade física bem superior ao da população geral. Curiosamente, mesmo os pacientes com a doença muito bem controlada (chamados de remissivos), que teoricamente não teriam motivo para serem sedentários, também se movimentam menos. O grande problema disso é que pacientes com doenças reumáticas que são comparados a pessoas saudáveis com o mesmo nível de inatividade física possuem índices mais baixos de capacidade física e qualidade de vida. Isso nos sugere que o preço da inatividade física pode ser mais caro para pessoas com doenças crônicas, as quais já possuem uma “reserva funcional” menor, resultante dos danos acumulados da doença e dos medicamentos.
É claro que a prática de atividade física realizada por um paciente com alguma doença crônica ou um alto grau de fragilidade precisa ser cuidadosamente orientada. Exames chamados de “pré-participação”, que envolvem avaliações clínicas, testes cardiovasculares ao esforço e exames laboratoriais, são necessários para uma prática segura, que respeite as limitações de cada pessoa. Entretanto, é necessário ressaltar que os casos de contraindicação absoluta e irreversível para a prática de atividade física são muito mais raros do que se imagina. Na imensa maioria dos casos, impedimentos para a prática de atividade física são resultados de uma tentativa de “superproteger” a pessoa, expondo-a, paradoxalmente, a uma maior deterioração da saúde geral. Portanto, antes de contraindicar prática de atividade física à alguma pessoa, investigue profundamente se há motivos para tal conduta.
Até a próxima!
Bruno Gualano - Blog Ciência InForma
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