Home Nutrição Exercícios Saúde Quem Somos A que viemos Contato

2015-11-16

Exercícios

Quanto maior a carga, maior o ganho de massa muscular...certo?! Ou não?

Intuitivamente, é natural fazermos uma analogia direta entre a magnitude da carga levantada e o ganho de massa muscular, não é verdade?! Neste sentido, parece incomum, para a maioria, conceber a ideia de que é possível obter ganhos significantes de massa muscular utilizando cargas mais baixas. O post de hoje trata deste assunto...


Um dos primeiros relatos científicos acerca da eficiência do treinamento de força no aumento da força e função musculares data dos anos 40. Desde então, uma série de estudos têm suportado o uso do treinamento de força seja no esporte/desempenho/fitness ou na prática clínica, combatendo doenças associadas à perda de massa, força e função musculares, por exemplo.



Apesar do enorme interesse científico nesta temática, não há um modelo de treinamento de força que promova um estímulo “ótimo” para a hipertrofia muscular. Há, ainda, quem argumente - com razão - que não é possível se determinar uma única forma “ótima” de se estimular o crescimento muscular através do treinamento de força que se aplique à toda população. 



A recomendação mais atual da maior entidade relacionada à Ciência do Exercício (o American College of Sports Medicine - ACSM) preconiza que praticantes iniciantes ou intermediários utilizem cargas entre 70-85% da sua força máxima – 1RM, realizando algo entre 8 e 12 repetições por série num total de 1 a 3 séries por exercício. Já para praticantes avançados, a mesma entidade diz que a carga adequada deveria estar entre 70 e 100% 1RM, variando entre 1 e 12 repetições por série em um total de 3 a 6 séries por exercício. 



O ponto mais interessante disso tudo é que esta recomendação, apesar de ser feita por um colegiado dedicado à pesquisa, encontra um respaldo muito, muito pequeno na literatura. Na verdade, evidências recentes apontam numa direção bastante diferente, na qual, a partir de um estudo de meta análise (tipo de estudo que utiliza técnicas matemáticas para sumarizar em uma única medida os resultados de estudos independentes sobre um mesmo assunto) pode-se concluir que a carga, em si, parece exercer um papel muito pequeno, se algum, no ganho de massa muscular - desde que as repetições dentro de uma série são realizadas até a falha concêntrica. Em outras palavras, independente da carga utilizada, o estímulo hipertrófico estará preservado se você realizar as repetições até não conseguir mais mover a carga durante a fase de encurtamento muscular (fase concêntrica do movimento) sem ajuda. 



Dois estudos bastante interessantes dão suporte à esta sugestão. Em um deles, os autores observaram que realizar uma sessão aguda de exercícios de força tanto em alta (90% 1RM) quanto em baixa intensidade (30% 1RM) são capazes de induzir aumentos similares na taxa de síntese proteica, desde que realizados até a falha concêntrica. A importância da realização das séries de exercício até a falha se mostrou fundamental, uma vez que a mesma carga baixa (30% 1RM), quando utilizada de maneira submáxima, ou seja, sem que as séries fossem feitas até a falha, não induziu aumentos importantes da síntese proteica, o quê, em última análise, poderia indicar que o exercício de baixa intensidade realizado de maneira submáxima não seria capaz de induzir aumentos de massa muscular significativos. 



O segundo estudo avaliou o efeito crônico de uma manipulação muito similar. Neste, os autores observaram aumentos comparáveis de massa muscular entre os grupos que treinaram com baixa (30% 1RM) ou alta (80% 1RM) intensidade até a falha concêntrica. Contudo, é importante destacar que os ganhos de força foram maiores no grupo que treinou com cargas elevadas, sugerindo que, em atletas (ou em indivíduos que visem maximizar os ganhos de força), sob o ponto de vista funcional, intensidades elevadas podem ser superiores, mesmo quando o exercício for realizado até a falha.



Assim, não se assustem ao se depararem com indivíduos musculosos se exercitando com cargas aparentemente baixas até a exaustão. De acordo com as evidências mais recentes, funciona!



Bons treinos!



Prof. Dr. Hamilton Roschel - Blog Ciência inForma



www.cienciainforma.com.br



Sugestão de leitura:



-Schoenfeld BJ, Wilson JM, Lowery RP, Krieger JW. Muscular adaptations in low- versus high-load resistance training: a meta-analysis. Eur J Sport Sci. 2014;1–10.



-Mitchell CJ, Churchward-Venne TA, West DWD, et al. Resistance exercise load does not determine training-mediated hypertrophic gains in young men. J Appl Physiol. 2012;113(1):71–77.



-Burd NA, Holwerda AM, Selby KC, et al. Resistance exercise volume affects myofibrillar protein synthesis and anabolic signalling molecule phosphorylation in young men. J Physiol. 2010;588(pt 16):3119–3130.







Comentários

Veja também


- Preciso aquecer antes de treinar?
- Exercinas parte 2
- Exercinas: um novo medicamento produzido pelo m
- “Sentar-se” é realmente o novo “fumar”?
- Como reduzir a dor na fibromialgia com exercícios?
- Nova ação da carnosina durante o exercício!
- Perda de Peso no UFC
- Perda de Peso no UFC
- Novo efeito do HIIT no músculo esquelético
- O cérebro obeso: um olhar biológico
- Frequência de treino: quanto mais melhor?
- Máscaras de treino que simulam altitude funcionam?
- Orlistat: emagrecimento e efeitos colaterais
- Uso de esteroides por mulheres!
- Lactato, o vilão que se tornou um possível aliado do desempenho?
- Bioimpedância é um bom método para avaliar composicão corporal?
- CrossFit: os riscos compensam os benefícios?
- Crossfit aumenta o risco de lesão?
- Tem alguma doença reumática? Então faça exercício físico!
- Esporte não é “saúde”...mas será que é “doença”?
- Como o exercício físico previne câncer de mama?
- Sobre a tara em se reduzir o dano muscular induzido pelo exercício...
- HIIT QUEIMA MAIS GORDURA DO QUE EXERCÍCIOS AERÓBIOS... OU NÃO!
- Exercícios aeróbios não matam, não engordam, e não causam diabetes
- Dano muscular e hipertrofia: será o fim do "no pain, no gain"?
- Quer dizer que a atividade física não funciona para reduzir o peso corporal? Hora de colocar alguns pingos nos “is”...
- O mito das dietas low-carb e o papel da insulina no emagrecimento
- A atividade física ideal!
- “Disseram que eu não posso fazer atividade física...”
- Quando devo aumentar a carga de treinamento?
- Esclarecimentos sobre “exercício aeróbio engorda” e “exercício aeróbio não emagrece”.
- Treinar em jejum: bom, ruim ou depende?
- Por que entramos em fadiga?
- Quanto maior a carga, maior o ganho de massa muscular...certo?! Ou não?
- HIIT - Treino Intervalado de Alta Intensidade, parte 2.
- HIIT - Treino Intervalado de Alta Intensidade
- Lactato: de causador da fadiga a aliado do desempenho.
- Queimar gordura somente após 20 minutos de aeróbio?
- Overtraining: O que, de fato, é isso?
- Percentual ou distribuição de gordura corporal: qual o melhor preditor de risco cardiovascular?
- Resposta hormonal ao exercício de força e aumento de massa muscular: Qual a relação entre eles?
- Cortar peso é prejudicial ao lutador?
- Treinamento de força com oclusão vascular: O que é e para quem serve?
- Quem faz musculação fica baixinho?
- Quando um gêmeo se exercita e o outro … não.
- Testes de DNA para detecção de talentos no esporte: cedo demais para ser verdade?
- 2 mitos sobre o uso “seguro” de esteroides anabolizantes
- CrossFit: os riscos compensam os benefícios?
- Treinamento intervalado para crianças: uma alternativa possível
- Ciência InForma responde: É importante variar os exercícios no treino de musculação?
- “Eu até tento, mas não “respondo” ao exercício...”
- Exercício em jejum: Fazer ou não fazer, eis a questão (Parte 3)
- Exercício em jejum: Fazer ou não fazer, eis a questão (Parte 2)
- O fisiculturismo como um estilo de vida saudável?
- Exercício em jejum: Fazer ou não fazer, eis a questão (Parte 1)
- Quando chega a "conta" do sedentarismo?
- Exercício sem dieta emagrece?
- Treinamento de força para todos
- Lactato: amigo ou vilão do desempenho?
- Sobre o milagre das pílulas do exercício



Busca

Receba Atualizações

Envia sua sugestão de temas


Nossos Colaboradores

Prof. Bruno Gualano, PhD
Prof. Associado da Universidade de São Paulo

Profa. Desire Coelho, PhD
Nutricionista Clínica e Esportiva

Profa. Fabiana Benatti, PhD
Professora Doutora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp

Prof. Guilherme Artioli, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo

Prof. Hamilton Roschel, PhD
Prof. Dr. da Universidade de São Paulo